Eis o
resumo do debate presidencial promovido pela Globo: energizado pelo Datafolha
que o recolocara horas antes na briga por uma vaga no segundo turno, Aécio
Neves saiu-se melhor do que Marina Silva. Dilma Rousseff cumpriu tabela.
E Luciana Genro, destaque do pelotão de ‘nanicos’, esforçou-se para
mostrar à platéia que Aécio, Marina e Dilma não têm telhado de vidro. Para a
candidata do PSOL, os presidenciáveis mais bem-postos na disputa têm paletó de
vidro, gravata de vidro, blusas de vidro, calças de vidro, calcanhares de
vidro…
Dos cinco
debates ocorridos no primeiro turno, o da noite passada foi o mais eletrizante.
O tema central tem a idade das caravelas: corrupção. Sitiada, Dilma
deu as respostas padronizadas que seu marqueteiro formulou. São 100% feitas de
hipocrisia. Mas as pesquisas indicam que pelo menos 40% do eleitorado já
engoliu a versão segundo a qual Dilma é parte da solução, não do problema.
Marina
chegou sorridente. Mas seu riso duraria pouco. Atacada por Dilma, Aécio e
Luciana Genro, ela crispou o cenho. Revelou-se uma debatedora menor do que os
ressentimentos que colecionou durante a campanha. Rodopiando em torno dos
estereótipos fabricados pela central de demolição petista, Marina
perdeu duas de suas melhores qualidades: a serenidade e a objetividade.
A
substituta de Campos
parece ter perdido também o bom senso. Há dois dias, ao discursar para aliados,
repetira três vezes a frase: “Nós já estamos no segundo turno.” Durante o
debate, pendurou em sua retórica uma promessa que denuncia o grau da sua
insegurança:
“Nós
temos uma proposta que é de dar o 13º salário para aquelas pessoas que hoje
recebem o Bolsa Família, porque a pior coisa que tem é chegar no Natal e não
ter como sequer dar uma ceia para os seus filhos. Nós, no nosso governo, vamos
dar o 13º salário para o Bolsa Família, que isso vai melhorar a condição de
vida das pessoas.” José Serra prometera a mesma coisa em 2010. Flertou com o
ridículo.
Aécio, ao
contrário de Marina,
escapou dos velhos alçapões construídos pelo petismo para capturar tucanos.
Dilma sacudiu o lençol do fantasma das privatizações. Ela repetiu que o
tucanato quebrou o Brasil três vezes. Pintou os governos tucanos com cores
demofóbicas. Disse cobras e lagartos de Armínio Fraga, o ex-presidente do Central
que Aécio já anunciou como ministro da Fazenda
do seu hipotético governo.
Diferentemente
do que fizeram José Serra e Geraldo Alckmin em disputas pretéritas, Aécio
defendeu o legado tucano com raro desassombro. Mais: anunciou a presença de Cardoso
nos estúdios da Globo.
Declarou-se “honrado''. Ouviram-se aplausos. O moderador Bonner
teve de ralhar com o auditório para restabelecer o silêncio.
A refrega
da noite começou com uma pergunta de Genro
para Dilma. “O escândalo da Petrobras é resultado das alianças que vocês
fizeram com a direita?”, inquiriu, sem rodeios, a filha de Genro,
governador petista do Grande
do Sul. Dilma escorou-se no manual de marketing.
“Nessa
campanha, eu propus medidas concretas contra a corrupção”, disse a presidente.
Ela enumerou os cinco projetos anti-roubalheira que anunciou faz uma semana.
Somando-se os mandatos de Lula e Dilma, as propostas chegaram com 12 anos de
atraso. Há nos escaninhos do Congresso
pilhas de proposições análogas. As propostas avalizadas por Dilma
visam ajustar o discurso, não a legislação.
Além dos
projetos elaborados em cima da perna, a desconversa de Dilma
incluiu duas alegações: 1) “eu demiti” Paulo Roberto Costa, o ex-diretor
da Petrobras
encrencado na Operação Lava Jato; 2) “os roubos só aparecem porque eu autorizei
que, em todas as questões relativas à Petrobras, houvesse ampla e total
abertura para investigações.”
Na
réplica, Genro
foi à canela: “Acontece, Dilma, que é o tesoureiro do PT que está envolvido
nesse escândalo.” Dilma engoliu a menção à tesouraria petista e disse coisas
assim: “Não acredito que tem alguém acima da corrupção. Acho que todo mundo
pode cometer corrupção. As instituições é que tem de ser virtuosas e impedirem
que isso ocorra.”
Na
sequência, aproveitando-se de uma levantada de bola do Pastor Everaldo, Aécio
evocou um documento que desdiz Dilma: “O mais grave em relação à Petrobras é
que a presidente acaba de repetir aqui, alguns segundos atrás, que demitiu o
senhor Roberto
da Petrobras. Não é o que diz a ata do Conselho” da estatal.
“Está
aqui em minhas mãos”, prosseguiu Aécio.
“A ata do conselho
da Petrobras diz que o diretor renunciou ao cargo e, pasme meu caro pastor,
senhoras e senhores, recebe elogios pelos relevantes serviços prestados à companhia
no desempenho das suas funções. Esse senhor está sendo obrigado a devolver R$
70 milhões roubados da Petrobras.
E o governo do PT o cumprimenta pelos serviços prestados à companhia.
Dilma
voltaria ao tema minutos depois. Para não deixar Aécio
sem resposta, ela enfiou a Petrobras numa resposta de Eduardo Jorge, o
candidato do PV, sobre aborto. “Primeiro gostaria de fazer um
esclarecimento. Foi dito aqui que eu teria mentido a respeito do demissão do
diretor da Petrobras.” Passou a ler trecho de um depoimento de Costa
prestara à CPI da Petrobras em junho.
No trecho
lido por Dilma, Paulo Roberto conta que foi chamado à presença do Ministério
Edison Lobão (Minas e energia). “Aí o ministro me falou: ‘Paulo, é o seguinte:
nós estamos tendo uma mudança. Mudanças na diretoria. Nós resolvemos que
precisamos ter uma nova pessoa na diretoria de Abastecimento’. E o ministro
falou: ‘Eu gostaria que você fizesse uma carta de demissão’. Eu disse: nenhum
problema, eu faço. Os fatos sao esses. Insistem em negá-los. É má-fé…”
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