sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Quem venceu o debate da tv globo?



Eis o resumo do debate presidencial promovido pela Globo: energizado pelo Datafolha que o recolocara horas antes na briga por uma vaga no segundo turno, Aécio Neves saiu-se melhor do que Marina Silva. Dilma Rousseff cumpriu tabela. E Luciana Genro, destaque do pelotão de ‘nanicos’, esforçou-se para mostrar à platéia que Aécio, Marina e Dilma não têm telhado de vidro. Para a candidata do PSOL, os presidenciáveis mais bem-postos na disputa têm paletó de vidro, gravata de vidro, blusas de vidro, calças de vidro, calcanhares de vidro…

Dos cinco debates ocorridos no primeiro turno, o da noite passada foi o mais eletrizante. O tema central tem a idade das caravelas: corrupção. Sitiada, Dilma deu as respostas padronizadas que seu marqueteiro formulou. São 100% feitas de hipocrisia. Mas as pesquisas indicam que pelo menos 40% do eleitorado já engoliu a versão segundo a qual Dilma é parte da solução, não do problema.
Marina chegou sorridente. Mas seu riso duraria pouco. Atacada por Dilma, Aécio e Luciana Genro, ela crispou o cenho. Revelou-se uma debatedora menor do que os ressentimentos que colecionou durante a campanha. Rodopiando em torno dos estereótipos fabricados pela central de demolição petista, Marina perdeu duas de suas melhores qualidades: a serenidade e a objetividade.
A substituta de Campos parece ter perdido também o bom senso. Há dois dias, ao discursar para aliados, repetira três vezes a frase: “Nós já estamos no segundo turno.” Durante o debate, pendurou em sua retórica uma promessa que denuncia o grau da sua insegurança:
“Nós temos uma proposta que é de dar o 13º salário para aquelas pessoas que hoje recebem o Bolsa Família, porque a pior coisa que tem é chegar no Natal e não ter como sequer dar uma ceia para os seus filhos. Nós, no nosso governo, vamos dar o 13º salário para o Bolsa Família, que isso vai melhorar a condição de vida das pessoas.” José Serra prometera a mesma coisa em 2010. Flertou com o ridículo.
Aécio, ao contrário de Marina, escapou dos velhos alçapões construídos pelo petismo para capturar tucanos. Dilma sacudiu o lençol do fantasma das privatizações. Ela repetiu que o tucanato quebrou o Brasil três vezes. Pintou os governos tucanos com cores demofóbicas. Disse cobras e lagartos de Armínio Fraga, o ex-presidente do Central que Aécio já anunciou como ministro da Fazenda do seu hipotético governo.
Diferentemente do que fizeram José Serra e Geraldo Alckmin em disputas pretéritas, Aécio defendeu o legado tucano com raro desassombro. Mais: anunciou a presença de Cardoso nos estúdios da Globo. Declarou-se “honrado''. Ouviram-se aplausos. O moderador Bonner teve de ralhar com o auditório para restabelecer o silêncio.
A refrega da noite começou com uma pergunta de Genro para Dilma. “O escândalo da Petrobras é resultado das alianças que vocês fizeram com a direita?”, inquiriu, sem rodeios, a filha de Genro, governador petista do Grande do Sul. Dilma escorou-se no manual de marketing.
“Nessa campanha, eu propus medidas concretas contra a corrupção”, disse a presidente. Ela enumerou os cinco projetos anti-roubalheira que anunciou faz uma semana. Somando-se os mandatos de Lula e Dilma, as propostas chegaram com 12 anos de atraso. Há nos escaninhos do Congresso pilhas de proposições análogas. As propostas avalizadas por Dilma visam ajustar o discurso, não a legislação.
Além dos projetos elaborados em cima da perna, a desconversa de Dilma incluiu duas alegações: 1) “eu demiti” Paulo Roberto Costa, o ex-diretor da Petrobras encrencado na Operação Lava Jato; 2) “os roubos só aparecem porque eu autorizei que, em todas as questões relativas à Petrobras, houvesse ampla e total abertura para investigações.”
Na réplica, Genro foi à canela: “Acontece, Dilma, que é o tesoureiro do PT que está envolvido nesse escândalo.” Dilma engoliu a menção à tesouraria petista e disse coisas assim: “Não acredito que tem alguém acima da corrupção. Acho que todo mundo pode cometer corrupção. As instituições é que tem de ser virtuosas e impedirem que isso ocorra.”
Na sequência, aproveitando-se de uma levantada de bola do Pastor Everaldo, Aécio evocou um documento que desdiz Dilma: “O mais grave em relação à Petrobras é que a presidente acaba de repetir aqui, alguns segundos atrás, que demitiu o senhor Roberto da Petrobras. Não é o que diz a ata do Conselho” da estatal.
“Está aqui em minhas mãos”, prosseguiu Aécio. “A ata do conselho da Petrobras diz que o diretor renunciou ao cargo e, pasme meu caro pastor, senhoras e senhores, recebe elogios pelos relevantes serviços prestados à companhia no desempenho das suas funções. Esse senhor está sendo obrigado a devolver R$ 70 milhões roubados da Petrobras. E o governo do PT o cumprimenta pelos serviços prestados à companhia.
Dilma voltaria ao tema minutos depois. Para não deixar Aécio sem resposta, ela enfiou a Petrobras numa resposta de Eduardo Jorge, o candidato do PV, sobre aborto. “Primeiro gostaria de fazer um esclarecimento. Foi dito aqui que eu teria mentido a respeito do demissão do diretor da Petrobras.” Passou a ler trecho de um depoimento de Costa prestara à CPI da  Petrobras em junho.
No trecho lido por Dilma, Paulo Roberto conta que foi chamado à presença do Ministério Edison Lobão (Minas e energia). “Aí o ministro me falou: ‘Paulo, é o seguinte: nós estamos tendo uma mudança. Mudanças na diretoria. Nós resolvemos que precisamos ter uma nova pessoa na diretoria de Abastecimento’. E o ministro falou: ‘Eu gostaria que você fizesse uma carta de demissão’. Eu disse: nenhum problema, eu faço. Os fatos sao esses. Insistem em negá-los. É má-fé…
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