A garrafada feita com a raiz da maconha é vendida informalmente em cidades da Bahia e do Sertão de Pernambuco.
No município de Cabrobó-PE, o valor de uma garrafa feita com a raiz da cannabis sativa, custa de R$ 20 a R$ 25.
A bebida ganhou notoriedade através das redes sociais, inclusive com uma fanpage intitulada 'Pitúconha'.
O nome surgiu de uma
brincadeira de um grupo de amigos da cidade pernambucana, que criou um
rótulo fazendo uma junção da marca da cachaça industrial Pitú com a
maconha.
O G1 conversou com um
dos homens que teve a ideia de dar o nome para a bebida, ele prefere
manter a identidade em sigilo por medo de represálias. “A ideia de fazer
o rótulo da 'Pitúconha' foi apenas uma brincadeira, até mesmo porque a
fabricação e a comercialização da raizada de maconha é uma prática
antiga na região”, enfatizou. Em nota, a empresa que fabrica a cachaça
Pitú declarou que vai acionar a justiça pelo uso indevido da marca.
Pelos bares de Cabrobó
encontrar a raizada não é uma missão tão simples. Quem consome não
assume, e quem vende afirma que consegue a raiz de maneira lícita, sem
qualquer associação ao tráfico.
Os próprios comerciantes
contam que durante as erradicações das roças de maconha, realizadas em
operações feitas pela polícia, a planta não é arrancada pela raiz.
Depois de ser derrubada com facões a plantação é incinerada, mas a raiz
geralmente permanece no solo. Elas são colhidas pelas pessoas que
fabricam a raizada artesanalmente.
“Depois da chegada das
obras da Transposição, diminuiu muito o plantio de maconha, por isso
também teve redução nas operações. Agora está cada vez mais raro
encontrar a raiz na cidade”, relatou um morador que preferiu não se
identificar.
A dificuldade para fazer
a raizada de maconha é confirmada pelo comerciante Francismar de Sá
Barros. Em entrevista ao G1 ele disse que a raiz é utilizada há mais de
40 anos para esse fim. Ele afirma que produz cerca de três garrafas da
bebida por mês e vende a dose por R$ 1.
Francismar conta ainda
que produz a garrafada há cerca de 10 anos e que a procura é normal. “É
uma raizada como outra qualquer. Não tem diferença nenhuma, fica bêbado
do mesmo jeito das outras. Se você colocar de canela é um gosto, de
'quebra-faca' é outro gosto. Qualquer raizada tem gosto diferente, mas
não dá alteração nenhuma”, relata o comerciante.
Raiz de maconha é a
matéria-prima da bebida comercializada no Sertão de Pernambuco (Foto:
Carol Souza /G1)Para o cachaçólogo Marcelo Câmara, a cachaça com raiz de
maconha é novidade. "Nunca tinha ouvido falar, por isso, nunca foi
estudada".
No entanto, ele acredita
que as substâncias da cachaça podem ser potencializadas quando
adicionada a raiz da maconha. “Uma mistura potencializa a outra. O
álcool vai direto para o sistema nervoso central e dá uma euforia
inicial. É lógico que a raiz da maconha é diferente de fumar. Se você
pegar uma cachaça e fizer um exame clínico vai dar um determinado
resultado. Mas se você pegar essa mesma bebida com uma madeira ou raiz
dentro, a análise vai ser diferente", explicou.
A planta tem com
princípio ativo o tetrahidrocanabinol (THC), substância que a depender
da quantidade absorvida pelo organismo, pode causar euforia, sonolência,
risos espontâneos, perda temporária de noção do tempo e espaço, de
coordenação motora e equilíbrio, aceleramento dos batimentos cardíacos e
fome. Mas não se pode afirmar que estes mesmos efeitos aconteçam com a
ingestão da garrafada de maconha, já que até agora, não existe nenhum
estudo científico sobre o caso.
O uso, o cultivo da
planta e a comercialização dos seus substratos são proibidos segundo o
artigo 2º, da lei 11.343 do ano de 2006. De acordo com o delegado da
Polícia Civil em Cabrobó, Alex de Sá Matias, fazer raizadas e
comercializar bebidas com maconha, também é crime. “A raiz faz parte da
planta. Se é maconha, é crime e a pena varia de 5 a 15 anos de
reclusão”, afirma.
Sobre o comércio da
raizada na cidade o delegado disse que não há nenhuma denúncia sobre o
caso. “Nunca veio ninguém aqui da comunidade para relatar algo do tipo.
Mas nós vamos apurar a existência de produtos nesse sentido e se houver,
tomaremos as medidas necessárias”, garantiu Alex Matias.
Fonte: G1
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