sábado, 15 de junho de 2013

Muito além de alguns centavos a mais na conta do ônibus, há razões de sobra que motivam o povo a correr às ruas e desafiar as bombas e balas dos governos que estão aí.

Muito além de alguns centavos a mais na conta do ônibus, há razões de sobra que motivam o povo a correr às ruas e desafiar as bombas e balas dos governos que estão aí. Há nesses protestos, uma carga simbólica que precisa ser decodificada e refletida. É o retrato de um povo que cansou de ser furtado, não pelos meninos e meninas miseráveis que a elite gerou e que quer agora pôr na cadeia aos 16 anos, mas pelos bandidos mais perigosos deste país: os homens engravatados que desfilam entre Prefeituras e Planalto; dos legislativos mirins ao Congresso Nacional.
O povo não suporta mais ser furtado nas contas bilionárias dos estádios de futebol, enquanto neste Vale e por este país a fora crianças morrem por falta de um hospital; jovens padecem pela marginalização; futuros morrem agora ou agora são encacerados pela falta de educação e cultura.

Dizem que estão fazendo uma Copa para o povo, mas ao povo caberá apenas o gosto ou desgosto de vê pela televisão a elite gozando os luxuosos estádios construídos com o dinheiro que faltou para Damiana, que se abriga com os filhos em um prédio abandonado; que faltou para Elma, que acolhe sua filha em um casebre imprestável; que faltou para Zefa, que mantém a família em um abrigo de barro e madeira; que faltou para Zé Marreca, que tem nas ruas seu único refúgio; que faltou para Maria, que ainda não tem, sequer, um registro de nascimento. E faltou para tantos outros necessitados, estes que nem pela TV assistirão à Copa.

Ao passo que a currupção acaba este país, seus governantes tentam mascarar a realidade com futebol, forró e circo. Mas nesse picadeiro, o palhaço está na plateia, é o próprio povo. E se o povo se queixa da saúde e educação públicas, não tem do que se queixar seus gestores, que vivem de bolsos cheios pelos desvios financeiros dentro dos gabinetes, enquanto dentro dos hospitais e escolas um cadáver e um analfabeto a mais não fazem diferença.

E o povo se queixa da segurança pública, e a solução que a elite política e econômica apresenta é uma farsa. Defendem cadeia para crianças e jovens marginalizados, a quem atiram a culpa para esconder a verdadeira causa da violência, que é o furto o dinheiro que seria para retirar da marginalização, da exclusão social milhares de crianças e adolescentes fustigados pela miséria, pelas drogas e pela falta de perspectiva. Se não forem dadas a esses meninos melhores condições de vida e educação, eles continuarão sendo recrutados ao crime pelo ambiente hostil e precário em que vivem.

Abrir cadeias e reduzir maioridade penal não resolvem o problema da violência, e os poderosos sabem disso, mas, para satisfazer uma eleite mais propensa ao castigo do que a educação, preferem botar o lixo embaixo do tapete: é mais rápido, é mais fácil, é mais cômodo, no entanto, daqui a pouco, toda a casa vai estar apodrecida; aí não há vassoura nem cela que dê jeito, e, no final das contas, quem paga é própria sociedade, esta mesma que, muitas vezes, costuma marginalizar uma criança por causa de um pequeno furto, mas vive a bajular políticos ladrões, cujas mãos sujas são o que gera toda a injustiça social, que, por sua vez, produz toda a marginalidade que estar por aí a corroer o tecido social. Que as pessoas conscientes invadam mesmo as ruas e gritem ao mundo a vergonha por trás da Copa. 


Sousa neto - folhadovali

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