Na vida
pessoal, e desde muito cedo, aprendi que não se deve invocar o nome de
Deus em vão. Na minha vida pública, tive sempre a clareza de não fazê-lo
para avaliar comportamentos humanos, nem muito menos julgá-los. Mas,
eis que neste momento peço permissão aos amigos e à opinião púbica do
meu Estado para recorrer a uma citação bíblica: “Tudo tem o seu tempo
determinado e há tempo para todo o propósito debaixo do céu”.
Hoje,
passada esta primeira fase do processo eleitoral paraibano de 2014, em
que os partidos escolheram seus candidatos para a eleição de outubro
vindouro, é chegado o meu tempo de falar.
Devo
fazê-lo com a serenidade que, graças a Deus, sempre me acompanhou; com a
honestidade de propósitos que nunca deixou de comandar as minhas ações.
E, finalmente, com a lealdade que dediquei, nos bons e maus momentos,
aos correligionários, aos amigos, aos adversários e, sobretudo, ao povo
da Paraíba.
Fui
vice-governador, governador, ministro de Estado, secretário de Estado,
prefeito de João Pessoa e estou concluindo o mandato de senador da
República, cargo para o qual fui escolhido pela vontade livre de 803.600
paraibanos, aos quais sou eternamente grato. Tenho a exata dimensão do
quanto todos esses cargos são passageiros. Afinal, o que fica, o que
vale, e o que nos fortalece enquanto cidadãos, são as nossas ações, as
nossas práticas.
Entrei
na política, em 1990, pelas mãos honradas do meu saudoso amigo e irmão
Ronaldo Cunha Lima, que entre outras coisas me ensinou: “Política se faz
como sacerdócio, não como negócio”.
Este
ano, pleiteei legitimamente disputar a reeleição para o Senado. Pelo que
estabelece a tradição política do nosso país, era candidato-nato. Mas o
meu nome não constará da cédula eleitoral. Na urna eletrônica, não
estarei nem com a foto nem com as minhas ideias em defesa de dias
melhores para a Paraíba e pelo Brasil.
Não
tenho como deixar de enfrentar a pergunta que muitos se fazem e que,
acreditem, eu também faço: por que não tive o direito de tentar a
reeleição? Por que o meu partido, o PSDB da Paraíba, ao qual tanto me
dediquei, não reconheceu como legítimo um direito que me havia sido
conferido por quase 50 por cento do eleitorado?
Durante
todo este processo eleitoral, que começou em outubro do ano passado,
ofereci várias soluções que viabilizavam a indicação do meu nome na
disputa pelo Senado. Abri caminhos e conversas preliminares para a
formação de novas alianças, preocupei-me em garantir maior tempo de
propaganda para o partido no guia eleitoral e, por fim, articulei
entendimentos que ajudariam numa boa composição da chapa majoritária.
Nada disso foi suficiente. O desejo deliberado de me tirar do processo
falou mais alto.
Por
várias vezes, surpreendi-me com as informações de bastidores dando conta
de que os detentores do comando partidário negociavam com outros
políticos paraibanos a indicação para a disputa pelo Senado. Vi se
repetir, agora, o que já ocorrera em 2010, quando fui preterido da
legítima postulação ao Governo em nome de uma aliança que hoje a Paraíba
inteira sabe no que resultou, e quem tinha razão.
Coerente
com a minha história pessoal, que a trajetória política confirma, fui
leal o tempo todo. Fui sincero, honesto e transparente. Em nome do
partido e da amizade, conciliei conflitos e aparei arestas... Inúmeras
arestas. Não foi o que recebi de volta.
No
último dia 29 de junho, o PSDB da Paraíba reuniu-se em convenção e
indicou os candidatos majoritários e proporcionais. Uma chapa foi
composta à minha revelia, sem que meu nome pudesse ser apresentado aos
convencionais. É difícil compreender que as coisas tenham chegado a este
ponto, mas chegaram.
A esta
altura, renovando os agradecimentos aos meus familiares, sempre
solidários ao longo tempo; aos meus verdadeiros e fiéis amigos que se
revelam no olhar e nos gestos; e, finalmente, a todos os paraibanos que
reconhecem a minha postura honrada em todo este episódio, devo informar
que estou me afastando da atividade política na Paraíba. Não concordo e
não comungo com os procedimentos e as práticas que a contaminaram. Como
nunca exerci o poder meramente pelo poder, não há prova maior de
desapego que esta de não disputar qualquer mandato eletivo nestas
eleições.
Deixo
claro que minha decisão é hoje, e sempre será, de respeito a quaisquer
das opções que, de forma livre e legítima, serão abraçadas por
familiares, amigos e correligionários no atual processo eleitoral do
Estado.
No
plano nacional, gostaria de me dirigir àqueles que possam considerar um
pedido: vou caminhar com Aécio Neves, que representa hoje a esperança de
um Brasil melhor.
Como diz o Eclesiastes, “tudo tem o seu tempo determinado”. Tempo de falar e tempo de ficar calado.
Mas, sobretudo, sempre haverá tempo para os bons propósitos.
Para quem tem Deus, nunca é tarde pra recomeçar.
João Pessoa, 21 de julho de 2014
Senador Cícero Lucena
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